Os Instrumentos do Nosso Passado: O Brasil na Jordânia

Cobertura da abertura da exposição resultado do trabalho de campo do Centro de Estudos e Pesquisa Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná, encabeçado pelo Prof. Dr. Fabio Parenti.

Redação


No dia 02 de junho de 2025, a Al Jaliah esteve na abertura da exposição “Os Instrumentos do Nosso Passado: o Brasil na Jordânia”. Resultado de um trabalho arqueológico de 30 anos no Vale do Zarqa, na Jordânia, a exposição reflete o trabalho de uma equipe multidisciplinar, contando com pesquisadores e colaboração interinstitucional da Universidade de São Paulo, Universidade Estadual Paulista e a Universidade Estadual de Campinas, no Brasil e do Instituto Italiano di Paleontologia Umana, o Musée National d’Histoire Naturelle, o British Geological Survey, o Departmento de Antiquidades da Jordânia e a Universidade da Jordânia.

A fala de abertura do professor Fabio Parenti refletiu a importância da missão arqueológica na Jordânia, atestando o caráter de passagem e troca cultural e biológica da região. Inicialmente crendo-se que os vestígios datavam de meio milhão de anos, a continuidade das pesquisas corrigiram esta estipulação para 1 milhão de anos e, novamente, para 1,8 e 2,4 milhões de anos. “As espécies têm uma tendência à dispersão, quando há condições”, afirmou o professor. Isto significa que o Vale do Zarqa pode ter sido o de primeira presença da dispersão humana a partir de África.

Parenti também reafirmou a importância da tarefa da pesquisa arqueológica em tentar compreender a natureza biológica, neurológica e cultural das primeiras populações. “Um trabalho de paciência” - afirmou o pesquisador, reforçando a necessidade de que os alunos presentes aprendam, desde cedo, o valor desta virtude - “que tem suas recompensas”.

Em seguida ao professor Parenti, a diretora do setor de ciências humanas da UFPR, Adelaide Hercília Pescatori Silva, pontuou a importância da atividade extensionista que marca não só a trajetória do professor, mas a importância da divulgação científica, encarnada no formato expositivo, cujos banners e materiais complementares servem para convocar novos públicos fora da academia, afirmando, além disso, a relevância da pesquisa arqueológica, interdisciplinar e, de modo geral, do âmbito das humanidades. Muito atacadas em anos recentes, especialmente na última presidência, há, ainda, uma visão equivocada e injusta sobre o trabalho das pessoas que se dedicam às ciências humanas. Aí, a importância desta exposição se revela, refletindo a possibilidade de uma reinterpretação do papel dos cientistas sociais.

A Exposição

A expografia de “Os Instrumentos de Nosso Passado”, organizada no prédio administrativo da reitoria da UFPR, é simples, dividida entre algumas mesas exibindo os artefatos da pedra lascada, ladeados por painéis contendo fotos e textos informativos, que guiam o visitante pela exposição, apresentando-o à complexidade do trabalho arqueológico: o estudo das camadas terrestres, as técnicas de datação e exploração, o trabalho atento aos detalhes.

Algumas pedras que passariam batido ao indivíduo comum ganham um destaque especial: tornam-se um contato com o passado. Ao centro da expografia, três réplicas de crânios encontrados no sítio arqueológico. Impressiona encarar de frente (mesmo se numa réplica), um antepassado homo erectus.

Para nós, a importância da divulgação científica, e de uma pesquisa como esta, especificamente, atesta não só a relevância do conhecimento produzido pelas universidades, de modo geral, mas uma relação interessante entre o Brasil e o Levante. Como presente no título da exposição, a possibilidade de que o Vale do Zaqar nos presenteie com as primeiras populações a terem imigrado de África, faz com que, presentificando-se um passado distante, reforcemos nossa relação não só com África, mas com o mediterrâneo oriente, muito antes de que assim se chamasse, que se tornasse terra, país, ou Estado, reforçando, porém, nossa parte neste pequeno grande canto do mundo.

A exposição fica em cartaz entre os dias 02 e 30 de junho de 2025, no prédio administrativo da reitoria da UFPR, na rua XV de novembro, 1299, no centro de Curitiba.

Fabio Parenti nasceu em Varese, Itália. Formou-se na Universidade de La Sapienza, de Roma, e doutorou-se pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris. Foi consultor de arqueologia entre 1990 e 2010 e professor visitante no MAE-USP entre 2011 e 2014. Foi presidente do Istituto Italiano di Paleontologia Umana (Roma) entre 2013 e 2017. Desde 2015, é professor de Arqueologia na Universidade Federal do Paraná.
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O CEPA (Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas) foi criado pela Universidade Federal do Paraná em 1956, objetivando incentivar as pesquisas arqueológicas no Brasil, especificamente no Paraná, através de escavações de sítios arqueológicos.
O CEPA desenvolve projetos relacionados à arqueologia, tais como avaliação de patrimônio arqueológico e estudos de impacto ambiental. No campo da pesquisa, já realizou trabalhos em todo o Paraná, notadamente nos vales dos rios Iguaçu, Piquiri, Ivaí, Paraná, Tibagi, Itararé, Paranapanema e Ribeira. Em outros Estados, destacam-se pesquisas desenvolvidas no Amapá, Pará, Minas Gerais, Maranhão, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

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